Espaço Público entrevista Phumzile Mlambo-Ngcuka
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Diretora-executiva da ONU Mulheres analisa a realidade machista da sociedade contemporânea
A história de vida da entrevistada do Espaço Público desta terça-feira (29/12), às 23h, na TV Brasil, é de excepcionalidades. Phumzile Mlambo-Ngcuka foi a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente da África do Sul. Ao transpor as barreiras no terceiro mundo e chegar a posto tão importante, ela terminou por ganhar destaque em todo o planeta. Hoje, lidera a luta das Nações Unidas pela equidade de gênero, como subsecretária geral e diretora-executiva da ONU Mulheres.
No programa, Phumzile, ao ser perguntada sobre a presença e mulheres como chefes de Estado na América Latina, lamentou que, dos cerca de 200 países que existem atualmente, somente 20 mulheres ocupem as funções de chefes de Estado e governo. “Precisamos de mais mulheres chefes de Estado, dentro e fora da América Latina”, afirmou.
O tamanho do desafio pode ser avaliado a partir de relatório da própria organização, com dados de 167 países. Uma medida é a realidade machista da sociedade atual, que põe oito homens em cada dez assentos destinados a legisladores. O trabalho ainda aponta que, no ritmo dos avanços hoje verificados, vão ser necessários 50 anos para as mulheres conquistarem espaço equivalente nos parlamentos. Na economia, o drama consegue ser mais dramático, com a paridade prevista para 81 anos.
Phumzile Mlambo-Ngcuka observa, nesta entrevista, que “hoje, no mundo, só há 20 mulheres chefes de Estado e de governo, de quase 200 países”. O Brasil, lembra, é um desses países, com Dilma Rousseff exercendo o segundo mandato. Mas ela lamenta que não haja maioria de mulheres em outras áreas do Executivo brasileiro. “É difícil que uma pessoa faça tudo”, acrescenta, insistindo que a mulher deve se fazer presente também no Congresso, nos governos locais e na iniciativa privada. “O que se exige do líder de um país?”, questiona, para responder em seguida: “Amor pelo povo, integridade, honestidade, dedicação ao serviço. Essas são atribuições tão fortes na mulher quanto no homem”.
À frente do tempo, Mlambo-Ngcuka tornou-se membro do parlamento da África do Sul 21 anos atrás, em 1994. Presidiu o Comitê de Serviço Público. Foi vice-ministra do Departamento de Comércio e Indústria (1996-1999), ministra de Minas e Energia (1999-2005) e ministra interina de Artes, Cultura, Ciência e Tecnologia, em 2004. Criou a Fundação Umlambo, em 2008, para apoiar escolas em áreas pobres da África do Sul e do Malawi.
Na opinião da líder sul-africana, se tiver oportunidades e empoderamento econômico, a mulher “pode se afastar de homens abusivos”. Se tiver autoridade, diminui as guerras no planeta, por tender mais para a paz. Se mais mulheres governarem, haverá mais investimento em nutrição. Por sua vez, por não ser combatente, “em muitos países em guerra, é mais perigoso ser mulher e menina que soldado”. Nesses casos, diz ela, as mulheres são raptadas e escravizadas pelo resto da vida.
O Espaço Público é apresentado pelo jornalista Paulo Moreira Leite. O programa conta com a participação de dois jornalistas convidados; Juliana Gonçalves, jornalista, coordenadora de comunicação do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, e Dario Pignotti, correspondente dos jornais Página 12 e Le Monde Diplomatique.